A plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter, atualizou suas diretrizes para proibir o uso de conteúdo publicado na rede social para o treinamento de modelos de linguagem, como aqueles usados em ferramentas de inteligência artificial (IA). A mudança afeta diretamente desenvolvedores e empresas de tecnologia que utilizavam a API oficial da plataforma para coletar postagens públicas como insumo para treinar sistemas de IA.
De acordo com reportagem do The Verge, a nova política foi incluída discretamente na documentação da API e nos termos de uso da plataforma, que agora especificam que é terminantemente proibido utilizar qualquer conteúdo, direta ou indiretamente, para treinar modelos de linguagem ou grandes modelos de IA (LLMs) sem autorização expressa. A medida surge em meio a um cenário global de discussão sobre uso de dados públicos para treinar IAs comerciais — uma prática que tem sido alvo de ações judiciais e disputas regulatórias.
A decisão do X é vista por analistas como uma tentativa de controlar o valor comercial do próprio conteúdo gerado pelos usuários. Como os dados postados na plataforma representam uma amostra diversificada e dinâmica da linguagem, opiniões e comportamentos humanos, eles têm alto valor para o treinamento de modelos de linguagem avançados. Ao limitar o acesso, a plataforma abre espaço para futuros acordos comerciais com empresas que desejam utilizar esse tipo de dado de forma legalizada, o que pode se tornar uma nova fonte de receita.
Porém, a política tem uma exceção notável: as postagens públicas do X continuam sendo utilizadas internamente para treinar o Grok, o chatbot com IA desenvolvido pela xAI, empresa fundada por Elon Musk. O Grok é integrado à própria plataforma X, e essa simbiose entre os dados da rede social e o desenvolvimento da IA indica que a proibição imposta a terceiros não se aplica à própria empresa.
Esse aspecto gerou críticas e questionamentos quanto à transparência e neutralidade da nova política. Para alguns especialistas, o fato de a plataforma proibir o uso de dados por terceiros enquanto continua a utilizá-los internamente pode representar um conflito ético, especialmente considerando que os usuários não são avisados explicitamente de que suas postagens estão alimentando um sistema de IA.
Em paralelo, diversas outras plataformas têm tomado decisões semelhantes. O Reddit, por exemplo, fechou recentemente acordos pagos com empresas como a Google para licenciar seus dados. Já o Stack Overflow e a Wikipedia estão discutindo abertamente os limites do uso de conteúdo colaborativo por IAs. Essas mudanças apontam para uma reconfiguração do acesso aos dados públicos, que por muito tempo foram explorados de forma livre por desenvolvedores e pesquisadores.
No caso do X, as restrições não apenas afetam projetos de IA, mas também podem impactar pesquisas acadêmicas e estudos de linguística computacional, que frequentemente utilizam amostras de linguagem natural extraídas de redes sociais para análises.
A atualização das diretrizes da API ocorre em meio a uma série de reformulações implementadas por Elon Musk desde que assumiu o controle da empresa. Entre as principais mudanças, estão o incentivo à monetização de conteúdo, a integração de recursos baseados em IA (como o Grok) e a limitação de acesso gratuito a funcionalidades avançadas da API.
Apesar de a empresa não ter comentado oficialmente sobre eventuais acordos futuros, a expectativa é que a proibição sirva como base para negociações controladas de licenciamento de dados — algo que pode interessar a gigantes do setor como OpenAI, Google, Anthropic e outras startups de IA.
Para os usuários da plataforma, a mudança pode passar despercebida, mas representa mais um capítulo na crescente disputa por quem controla os dados na era da inteligência artificial.
Você concorda com a decisão de proibir o uso dos posts para treinar IA? Acredita que as plataformas devem ser mais transparentes sobre como seus dados são usados? Deixe seu comentário no TutiTech!
Fontes:
The Verge, X (Twitter), xAI