
Uma equipe de pesquisadores surpreendeu a comunidade de tecnologia ao transformar um Renault Clio 2016 em um controle funcional de videogame para jogos de corrida. Utilizando técnicas de engenharia reversa e comunicação digital veicular, os especialistas conseguiram conectar os sistemas do carro ao popular jogo SuperTuxKart, um clone de código aberto inspirado no clássico Mario Kart.
O experimento foi possível graças ao uso da rede CAN (Controller Area Network), um protocolo padrão presente em veículos modernos que permite que diferentes unidades eletrônicas — como o sistema de freios, direção, aceleração, airbag e central multimídia — se comuniquem entre si. Ao interceptar e redirecionar os sinais transmitidos por essa rede, os pesquisadores conseguiram “ler” os comandos reais do veículo e mapeá-los diretamente para ações no jogo.
Na prática, isso significa que o volante do carro controlava o movimento dos personagens no jogo, o pedal do acelerador fazia o kart acelerar, e o freio real permitia desacelerar — tudo em tempo real. A imagem do jogo foi exibida em uma tela posicionada no painel do carro, completando a sensação de uma experiência imersiva de corrida arcade.
O jogo escolhido foi o SuperTuxKart, um projeto open source amplamente conhecido na comunidade de software livre, que oferece suporte para personalização e é ideal para testes desse tipo. Como não é um jogo comercial fechado, os pesquisadores puderam adaptar o código para aceitar comandos de entrada vindos da rede CAN sem a necessidade de hacks complexos.
Apesar do sucesso da empreitada, o projeto enfrentou diversos contratempos. Entre os desafios relatados estão falhas temporárias no sistema eletrônico do carro, bateria descarregada e desligamentos automáticos do motor após cinco minutos de inatividade, uma função de segurança presente no modelo. Esses obstáculos exigiram criatividade e adaptação por parte da equipe, incluindo a criação de scripts para simular o funcionamento contínuo do motor e a reinicialização automática de alguns módulos eletrônicos.
A experiência foi documentada em vídeo e compartilhada em plataformas como YouTube e GitHub, despertando o interesse tanto de entusiastas de automação quanto da comunidade gamer. Embora o projeto tenha caráter educativo e experimental, ele reforça o potencial da engenharia reversa automotiva quando aplicada em contextos criativos.
O uso da rede CAN para propósitos alternativos não é novidade no mundo dos “hackers de carros”. Já houve casos em que sistemas de veículos foram explorados para monitoramento remoto, segurança cibernética, automação residencial e até instalações artísticas. No entanto, o caso do Renault Clio usado como joystick real se destaca por sua acessibilidade e alto grau de interatividade.
Especialistas alertam, no entanto, que modificar o sistema de controle de um veículo real pode ser perigoso se feito fora de ambientes controlados. A recomendação é que experiências desse tipo sejam realizadas com o carro estacionado, desconectado do sistema de tração, ou com o veículo devidamente isolado para evitar qualquer risco à segurança.
Além de entreter, o projeto serve como uma introdução prática ao funcionamento dos sistemas embarcados modernos, ajudando novos profissionais e estudantes a entender como os sinais digitais de um carro podem ser captados, decodificados e utilizados em outras plataformas.
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Fontes:
GitHub, YouTube, SuperTuxKart Project, Renault, IEEE Spectrum