
A OpenAI, em parceria com o MIT Media Lab, publicou sua primeira pesquisa sobre como o uso do ChatGPT afeta o bem-estar emocional dos usuĂĄrios, trazendo Ă tona questĂ”es importantes sobre a interação entre humanos e inteligĂȘncia artificial. Realizada em março de 2025, a pesquisa analisou milhĂ”es de interaçÔes com o chatbot e conduziu experimentos controlados para entender os impactos emocionais e sociais dessa tecnologia. Os resultados apontam para uma relação complexa: enquanto o ChatGPT pode oferecer suporte emocional a alguns, seu uso prolongado estĂĄ associado a maior solidĂŁo e dependĂȘncia emocional, especialmente entre usuĂĄrios mais frequentes. Este estudo Ă© um marco para a indĂșstria de IA, levantando debates sobre como desenvolver chatbots que promovam interaçÔes saudĂĄveis.
A pesquisa foi dividida em duas partes. Na primeira, a OpenAI analisou cerca de 40 milhĂ”es de interaçÔes com o ChatGPT, garantindo a privacidade dos usuĂĄrios ao evitar envolvimento humano direto na anĂĄlise. Eles combinaram esses dados com pesquisas direcionadas a mais de 4 mil usuĂĄrios, perguntando sobre sentimentos de solidĂŁo, engajamento social e dependĂȘncia emocional. A segunda parte, conduzida pelo MIT Media Lab, envolveu um ensaio clĂnico randomizado com quase mil participantes que usaram o ChatGPT por quatro semanas, interagindo pelo menos cinco minutos por dia. Esses usuĂĄrios responderam a questionĂĄrios sobre sua percepção do chatbot, nĂveis de solidĂŁo e interação social, permitindo uma visĂŁo mais aprofundada dos efeitos psicossociais.
Os resultados revelaram que o engajamento emocional com o ChatGPT Ă© raro na maioria dos usuĂĄrios. A maioria utiliza o chatbot como uma ferramenta de produtividade, mas uma pequena parcela de usuĂĄrios frequentes â especialmente aqueles que usam o modo de voz avançado â demonstrou interaçÔes emocionalmente expressivas. Esses “superusuĂĄrios” relataram maior dependĂȘncia emocional, com alguns atĂ© considerando o ChatGPT um “amigo”. No entanto, o estudo tambĂ©m mostrou que quanto mais tempo os participantes passavam com o chatbot, maior era a probabilidade de sentirem solidĂŁo e reduzirem suas interaçÔes sociais com outras pessoas. Curiosamente, o uso do modo de voz por perĂodos curtos foi associado a uma melhora no bem-estar, mas o efeito se invertia com uso prolongado.
Outro ponto destacado foi a diferença de impacto entre gĂȘneros. Mulheres que participaram do experimento apresentaram uma leve redução na socialização em comparação com homens, enquanto usuĂĄrios que interagiram com o ChatGPT em um modo de voz de gĂȘnero diferente do seu relataram nĂveis mais altos de solidĂŁo. Esses achados sugerem que a forma como o ChatGPT Ă© projetado â incluindo caracterĂsticas como tom de voz e personalidade â pode influenciar diretamente as emoçÔes dos usuĂĄrios. Para Jason Phang, pesquisador de segurança da OpenAI, o estudo Ă© um “primeiro passo crucial” para entender os impactos de longo prazo da IA e desenvolver plataformas mais seguras.
Embora o ChatGPT nĂŁo tenha sido projetado como um companheiro emocional, como apps como Replika ou Character.AI, muitos usuĂĄrios acabam usando-o dessa forma. Kate Devlin, professora de IA e sociedade no Kingâs College London, observou que, apesar de ser uma ferramenta de produtividade, o ChatGPT Ă© frequentemente tratado como um companheiro, especialmente por aqueles que passam cerca de meia hora por dia interagindo com ele. Isso levanta preocupaçÔes sobre o risco de dependĂȘncia emocional e a necessidade de diretrizes mais claras para o uso de chatbots.
A pesquisa tambĂ©m destaca a importĂąncia de mais estudos. Os dados sĂŁo preliminares e baseados em autorrelatos, o que pode limitar sua precisĂŁo. AlĂ©m disso, os experimentos duraram apenas um mĂȘs, o que nĂŁo captura os efeitos de longo prazo. Ainda assim, os resultados ecoam preocupaçÔes jĂĄ conhecidas sobre tecnologias digitais, como redes sociais, que tambĂ©m foram associadas a impactos negativos na saĂșde mental quando usadas excessivamente. Para os mais de 400 milhĂ”es de usuĂĄrios semanais do ChatGPT, entender esses efeitos Ă© essencial para garantir que a IA seja uma aliada, e nĂŁo um obstĂĄculo, ao bem-estar emocional.
Fontes:
Technology Review, MIT Media Lab, Platformer News, Engadget, ZDNET