
Pela primeira vez em mais de oito décadas, as fontes de energia limpa representaram 40% da produção global de eletricidade em 2024. O dado histórico foi divulgado por instituições internacionais de energia e representa um marco na transição energética mundial, mostrando que o mundo está avançando rumo a uma matriz energética mais sustentável.
Um marco desde os anos 1940
Segundo relatório da Ember Climate, uma organização de pesquisa especializada em transição energética, essa é a maior participação de fontes limpas na produção elétrica global desde os anos 1940, quando a energia hidrelétrica dominava o cenário. Desde então, o mundo passou por um longo período de dependência dos combustíveis fósseis — especialmente carvão, petróleo e gás natural — para sustentar o crescimento industrial e urbano.
O retorno à liderança das fontes renováveis, porém, agora vem acompanhado de uma diversificação tecnológica, que inclui:
- Energia solar fotovoltaica
- Energia eólica (onshore e offshore)
- Energia hidrelétrica
- Energia geotérmica
- Biomassa e resíduos renováveis
Destaques regionais da transição energética
A liderança da energia limpa em 2024 foi puxada por investimentos robustos em energia solar e eólica em várias regiões do mundo. A China, por exemplo, foi responsável por mais de 50% da nova capacidade solar instalada no planeta, enquanto a União Europeia expandiu fortemente seu parque eólico, especialmente em países como Alemanha, Dinamarca e Espanha.
Nos Estados Unidos, a legislação climática do governo federal — com destaque para o Inflation Reduction Act — ofereceu incentivos para a instalação de painéis solares residenciais e usinas eólicas de grande escala. Já no Brasil, a matriz elétrica já ultrapassa os 85% de fontes renováveis, com destaque para hidrelétricas, e o crescimento da energia solar distribuída em residências e empresas.
Redução no uso do carvão
Um dos aspectos mais comemorados do relatório foi a queda no uso do carvão na geração elétrica, que recuou cerca de 1% em relação a 2023. Pode parecer pouco, mas é um sinal de reversão em uma tendência que, até poucos anos atrás, ainda mostrava crescimento constante — principalmente em países em desenvolvimento.
A combinação de maior produção renovável, políticas de descarbonização e queda nos custos tecnológicos fez com que o carvão começasse a perder espaço no mix energético global, mesmo em países como Índia, Indonésia e África do Sul.
Avanços tecnológicos e queda nos custos
A tecnologia tem sido uma aliada fundamental no avanço das energias limpas. A queda expressiva nos custos de painéis solares, turbinas eólicas e baterias de armazenamento tornou essas fontes não apenas sustentáveis, mas também economicamente competitivas frente às opções fósseis.
Estudos mostram que, em muitas regiões do mundo, instalar uma nova usina solar ou eólica já é mais barato do que operar uma usina a carvão ou gás natural existente.
Além disso, sistemas de inteligência artificial, monitoramento remoto, e redes inteligentes (smart grids) têm ajudado a otimizar o uso da energia renovável, melhorando a eficiência e reduzindo perdas.
Desafios ainda persistem
Apesar do avanço histórico, o mundo ainda enfrenta grandes desafios para atingir as metas climáticas, como as estabelecidas no Acordo de Paris. Ainda há:
- Forte dependência de combustíveis fósseis em países emergentes
- Limitações na infraestrutura de transmissão elétrica
- Barreiras políticas e regulatórias em alguns mercados
- Falta de acesso à energia limpa em comunidades remotas
Especialistas afirmam que será necessário acelerar ainda mais os investimentos em renováveis e em redes elétricas modernas para garantir que o crescimento atual se mantenha e que o mundo caminhe para um futuro de emissões líquidas zero até 2050.
Conclusão
O fato de que 40% da eletricidade global em 2024 veio de fontes limpas representa uma mudança histórica no panorama energético mundial. É um sinal claro de que a transição está em andamento, mas que ainda exige comprometimento, inovação e políticas públicas sólidas. A boa notícia é que o mundo finalmente parece ter entendido a urgência — e o potencial — de uma matriz energética sustentável.
Fontes:
Ember Climate, IEA, BloombergNEF, Agência Internacional de Energia, ONU Meio Ambiente, Reuters, World Economic Forum