
Censura tecnológica marcou repressão na Praça Tiananmen em 1989
Em 4 de junho de 1989, o mundo assistiu — em parte — à violenta repressão do governo chinês aos protestos pacíficos na Praça Tiananmen, em Pequim. No entanto, poucos sabem que esse episódio também representou um dos primeiros exemplos modernos do uso de tecnologia como ferramenta de censura em massa, especialmente contra a mídia internacional.
Durante os dias que antecederam a repressão e no próprio dia 4, o governo chinês ativou um conjunto de medidas tecnológicas para bloquear o acesso à informação, impedindo que transmissões ao vivo e reportagens de correspondentes estrangeiros chegassem ao público global. A repressão às imagens, vídeos e dados foi estratégica e planejada, revelando o papel emergente da tecnologia na manutenção de regimes autoritários.
Controle sobre a infraestrutura de telecomunicações
Com a presença crescente da mídia estrangeira em Pequim desde o início dos protestos em abril de 1989, o Partido Comunista Chinês começou a monitorar e restringir as linhas telefônicas, conexões de rádio e transmissões via satélite utilizadas por agências de notícias como CNN, BBC, ABC e outras.
No dia 3 de junho, correspondentes começaram a relatar dificuldades para transmitir imagens, sendo instruídos a não apontar câmeras para locais “sensíveis” e, em alguns casos, tendo seus equipamentos confiscados ou sabotados. No auge da violência, muitos jornalistas ficaram completamente sem acesso à comunicação, presos em seus hotéis, com os telefones cortados e sem energia elétrica.
Mesmo com essas barreiras, algumas imagens — como a icônica do manifestante solitário parado diante dos tanques — conseguiram ser gravadas e contrabandeadas para fora da China. Esses registros foram divulgados dias depois por meios ocidentais, mas já com atraso e sob forte vigilância.
Precedente para regimes autoritários
O uso da tecnologia para impedir a circulação de informação em tempo real não era comum até então. A partir do episódio de Tiananmen, diversos governos passaram a considerar estratégias de controle digital como parte de sua política de segurança interna.
Nos anos seguintes, a China desenvolveu um dos sistemas de censura digital mais sofisticados do mundo, conhecido como “Grande Firewall”, que monitora e restringe o acesso a milhares de sites, serviços e palavras-chave consideradas perigosas ou sensíveis pelo regime.
A repressão à mídia em Tiananmen é vista por muitos analistas como o embrião dessas tecnologias de controle. O episódio demonstrou que impedir a circulação de imagens é quase tão importante quanto reprimir fisicamente os protestos, principalmente em uma era que já ensaiava o nascimento do jornalismo global em tempo real.
Impacto duradouro e lições contemporâneas
Mais de três décadas depois, o massacre de Tiananmen segue sendo um dos tópicos mais censurados na internet chinesa, com referências apagadas de redes sociais, livros escolares e até resultados de busca.
O que começou como um controle pontual de transmissões em 1989 evoluiu para um aparato de vigilância massiva, que inclui inteligência artificial, reconhecimento facial e censura automatizada de plataformas online.
Especialistas em liberdade de imprensa e direitos digitais alertam que o caso Tiananmen permanece como um alerta sobre os riscos da centralização tecnológica nas mãos do Estado, especialmente em contextos autoritários. Ao mesmo tempo, reforça a importância de tecnologias descentralizadas, criptografia e liberdade de imprensa como barreiras contra a manipulação da informação.
A tecnologia pode libertar ou aprisionar. Tudo depende de quem a controla. O que você pensa sobre o uso da tecnologia por governos para suprimir a verdade? Deixe seu comentário!
Fontes: The Verge, TechSpot, Foreign Correspondents Club of China, CNN Archives, BBC World Archive