
Aniversário da computação: o dia em que o “Baby” nasceu
Em um laboratório da Universidade de Manchester, no dia 21 de junho de 1948, um ruído constante de válvulas e relés marcou um dos momentos mais importantes da história da humanidade. Naquela segunda-feira, uma máquina colossal de 5,2 metros de comprimento e pesando quase uma tonelada executou com sucesso, pela primeira vez na história, um programa de computador armazenado em sua própria memória eletrônica. Este evento monumental foi a certidão de nascimento do software e o primeiro passo real para a era digital que vivemos hoje. A máquina, oficialmente chamada de SSEM (Small-Scale Experimental Machine), ganhou o apelido carinhoso de “Baby” e se tornou o ancestral de todos os computadores modernos.
A criação do “Baby” foi liderada por uma equipe brilhante da Universidade de Manchester, composta principalmente por Sir Frederic C. Williams, Tom Kilburn e Geoff Tootill. O objetivo primário do projeto não era construir um computador para resolver problemas complexos, mas sim testar uma nova e revolucionária forma de memória de acesso aleatório (RAM): o tubo de Williams-Kilburn. Essa invenção, que usava um tubo de raios catódicos (semelhante aos de televisores antigos) para armazenar bits de dados como pontos de carga elétrica, era a peça que faltava no quebra-cabeça da computação. O “Baby” foi a plataforma de testes para provar que essa memória era viável e confiável.
O programa que imortalizou a máquina foi escrito por Tom Kilburn, um dos principais cérebros por trás do projeto. A tarefa do software era relativamente simples para os padrões atuais, mas um desafio imenso para a época: encontrar o maior divisor próprio de um número. O número escolhido para o teste inaugural foi 2 elevado à 18ª potência (262.144). O “Baby”, com sua modesta memória de 32 “palavras” de 32 bits cada (totalizando 1024 bits), começou a processar as instruções.
Durante 52 minutos, a máquina executou cerca de 2.1 milhões de operações, com seus componentes piscando e zumbindo, até finalmente chegar à resposta correta: 131.072. O sucesso da execução não provou apenas que a memória funcionava, mas validou o conceito de “programa armazenado”, uma ideia arquitetônica (hoje conhecida como arquitetura de von Neumann) que definia que as instruções do programa deveriam ser armazenadas na mesma memória que os dados. Antes do “Baby”, computadores como o ENIAC precisavam ser fisicamente reconfigurados e religados para cada nova tarefa, um processo que podia levar dias. Com o programa armazenado, mudar a função de um computador passou a ser tão simples quanto carregar um novo software em sua memória.
O “Baby” era, de fato, um gigante primitivo. Sua capacidade de processamento é insignificante perto do mais simples dos smartwatches atuais. Ele possuía um conjunto de apenas sete instruções. No entanto, sua importância não está em sua força bruta, mas no princípio que ele provou ser possível. O sucesso imediato do SSEM levou ao rápido desenvolvimento de seu sucessor, o Manchester Mark 1, uma máquina muito mais poderosa e prática. O Mark 1, por sua vez, serviu de protótipo para o Ferranti Mark 1, que em 1951 se tornou um dos primeiros computadores de propósito geral disponíveis comercialmente no mundo.
Cada smartphone em nossos bolsos, cada servidor que alimenta a internet e cada console de videogame são descendentes diretos daquele experimento de 1948. Aquele “Baby” barulhento e gigantesco, construído para testar uma ideia de memória, acabou dando à luz a toda a indústria de software, transformando a computação de uma curiosidade de laboratório para a força onipresente que molda o século XXI. Celebrar o 21 de junho é celebrar o momento em que as máquinas deixaram de ser apenas calculadoras e começaram a aprender a “pensar” através do software.
Você conhecia a história do “Baby”? Qual outro marco da história da computação você acha fascinante? Deixe seu comentário e participe da conversa!
Fontes:
University of Manchester, Science Museum Group (Reino Unido), IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers), Computer History Museum
Esta matéria é baseada em registros históricos, fotografias e documentação oficial da Universidade de Manchester e de museus de ciência e tecnologia. As informações, nomes, datas e detalhes técnicos foram rigorosamente verificados para garantir a máxima precisão histórica.