
O Dia em que um Brasileiro Ajudou a Revelar o Maior Cometa Já Visto
Em 19 de junho de 2021, a comunidade astronômica global foi surpreendida com o anúncio de um objeto recém-identificado vindo das profundezas do Sistema Solar. Inicialmente catalogado como 2014 UN271, o corpo celeste se revelaria o maior cometa já observado na história da humanidade. A descoberta monumental foi fruto do trabalho minucioso de dois astrônomos: o brasileiro Pedro Bernardinelli e seu colega norte-americano Gary Bernstein, que deram nome ao “mega cometa”.
Nota de Transparência: As estimativas iniciais de tamanho para o cometa Bernardinelli-Bernstein variavam de 100 a 200 km de diâmetro. Estudos posteriores, utilizando observações precisas do Telescópio Espacial Hubble em 2022, refinaram essa medida, estabelecendo o diâmetro de seu núcleo em aproximadamente 137 quilômetros. Embora um pouco menor que as primeiras estimativas, este tamanho ainda o confirma, com folga, como o maior cometa já detectado.
A descoberta não ocorreu com alguém olhando por um telescópio em uma noite estrelada. Em vez disso, Bernardinelli e Bernstein, ambos da Universidade da Pensilvânia, encontraram o objeto ao “garimpar” uma vasta quantidade de dados arquivados. Eles analisaram anos de imagens capturadas pelo Dark Energy Survey (DES), um projeto que mapeou o céu do hemisfério sul entre 2013 e 2019 usando uma câmera de 570 megapixels instalada no Chile. Ao procurar por objetos transnetunianos distantes, eles se depararam com este ponto de luz que se movia lentamente através de diferentes imagens ao longo dos anos.
O anúncio inicial, feito em uma circular do Minor Planet Center em 19 de junho de 2021, identificou sua órbita única. Poucos dias depois, observações adicionais confirmaram que o objeto estava desenvolvendo uma “coma” – uma nuvem de poeira e gás formada quando o gelo em sua superfície sublima pelo calor do Sol. Isso confirmou sua natureza: não era um simples asteroide, mas sim um cometa ativo e gigantesco.
O Cometa Bernardinelli-Bernstein é um verdadeiro colosso. Com seus 137 km de diâmetro, seu núcleo é cerca de 50 vezes maior que o de cometas mais conhecidos, como o Halley, e possui uma massa estimada em espantosos 500 trilhões de toneladas. Ele é um mensageiro da região mais remota e misteriosa do nosso Sistema Solar: a Nuvem de Oort. Esta é uma vasta “concha” esférica de trilhões de corpos gelados que se acredita envolver o Sistema Solar a uma distância de até um ano-luz.
Este cometa está em uma jornada de milhões de anos em direção ao Sol. Sua órbita extremamente longa o leva a uma distância de até 40.000 unidades astronômicas (UA) – sendo 1 UA a distância da Terra ao Sol. Sua aproximação máxima do Sol (periélio) ocorrerá em janeiro de 2031, quando ele chegará a uma distância um pouco maior que a órbita de Saturno. Por estar tão longe, ele não será visível a olho nu, mas representa uma oportunidade de ouro para os cientistas estudarem com telescópios um objeto praticamente intocado desde a formação do Sistema Solar, há 4,5 bilhões de anos.
A descoberta reforçou dramaticamente a importância de grandes levantamentos astronômicos, como o DES, e do futuro Observatório Vera C. Rubin, que escaneará o céu continuamente com ainda mais profundidade. Esses projetos são essenciais para encontrar objetos raros e colossais como o Bernardinelli-Bernstein, que desafiam nossos modelos sobre a formação de cometas e a distribuição de massa na Nuvem de Oort.
A identificação deste “mega cometa” é um marco na ciência planetária e um testemunho do poder da colaboração internacional e da análise de big data na astronomia moderna, com um brasileiro desempenhando um papel de protagonista.
O que mais você acredita que se esconde nos confins da Nuvem de Oort? A descoberta de ‘mega cometas’ como este muda sua perspectiva sobre o nosso Sistema Solar? Deixe sua opinião nos comentários.
Fontes:
Anúncios do Minor Planet Center (MPEC 2021-M41), comunicados de imprensa do NOIRLab, NASA e ESA (Agência Espacial Europeia), publicações da Universidade da Pensilvânia, artigos do The Astrophysical Journal Letters.